sábado, 5 de julho de 2014

terça-feira, 1 de julho de 2014

Cérebro em off

Quando o meu tio Orlando desistiu de viver, os dias estavam lindos. Lembro-me de ter pensado como é o que sol podia continuar a brilhar se eu estava tão profundamente triste. Como se fossem incompatíveis os abraços mornos de um dia iluminado e a negrura triste da perda. Talvez por isso a morte seja fria, não sei.

Sonhei, pouco antes de vir para Portugal, que perdia o meu filho. Alguém tinha deixado uma janela aberta e eu, depois de o procurar pela casa toda e já em pânico, vi-o lá em baixo, no chão, o corpinho dele numa pose desengonçada. Ainda hoje se me aperta o coração com essa imagem e tanto assim que tratei logo de contar do meu sonho a todos os que cá podem vir, quero que me digam "és tonta", ou "essa agora". Tenho medo que o Diabo me ouça, naturalmente, mas quero jamais ter razão. Porque eu não consigo imaginar sorrir depois.